segunda-feira, 7 de abril de 2008

Sobre a felicidade



Hoje conheci o Seu Robério, aposentado, 75 anos, conhecido como "vôzinho". O Seu Robério é morador da COHAB I aqui de Botucatu há 8 anos.

Quando o Seu Robério chegou na COHAB, pertinho da casa dele havia um terreno - próxima ao barranco que fica ao lado da Rodovia Marechal Rondon - castigado por queimadas, cheio de mato, lixo e bichos...

Ali do lado também fica a Escola Estadual Professora Sofia Gabriel de Oliveira. E o Seu Robério não queria deixar aquela feiúra toda perto das crianças. E ele, que sempre trabalhou na lavoura e morou no sítio, também sentia falta de um cantinho "do mato".

E foi assim que o Seu Robério criou a "Praça é Nossa". Um verdadeiro jardim botânico no meio do Conjunto Habitacional Humberto Popolo. Com um pouco de ajuda da prefeitura e muita ajuda dos colegas, vizinhos e pessoas que se interessavam pelo trabalho, Seu Robério tem, no espaço de aproximadamente 500m², mais de 40 espécies de árvores frutíferas. Tem amora, cereja, acerola, goiaba, manga, laranja, limão, uva japonesa. Tem também as espécies com flores, como o ipê. E tem um espaço onde o vôzinho planta hortelã, cebolinha... tudo isso é pra comunidade, porque segundo ele, "a praça é nossa".

O que mais me fascinou foi a alegria do Seu Robério. Os olhos quase não abriam, de tanto que o homem sorria. Verdade que o sol era forte também, mas graças às árvores plantadas na pracinha, a conversa embaixo da sombra, no banquinho da praça, foi muito agradável. Sai de lá até com dor na bochecha. É impossível não ser contagiado pela alegria dessa boa alma.

E foi com essa mesma alegria que ele abriu a porta de casa, na hora em que o chamei no portão. E depois também subiu até sua casa e desceu de novo, pra buscar as reportagens em que já havia aparecido, além da lista com o nome de tudo o que tem plantado em sua pracinha e fotos com visitantes da praça. Tudo guardado num saquinho plástico, com muito amor.

Enquanto conversávamos, a criançada saia da escola e ia sentar à sombra das árvores. Os bancos, de acordo com o vôzinho, estavam sendo estragados na própria escola. "Mas aqui ninguém estraga nada. Todo mundo respeita a praça", contou.

O Seu Robério me deu um presente hoje. Ver a felicidade dele, nos olhos fechadinhos pelo sorriso, me fez abrir um pouco mais os meus.

As vezes eu quero parar de tentar ser jornalista. Eu me questiono muito sobre o que faço, porque o trabalho no interior - que até o presente momento é o único que conheço e tenho "autoridade" pra classificar - não é fácil. Muitas vezes precisamos entrevistar pessoas que não tem muito (ou nada) a dizer, e que tem mais espaço do que deveriam. E em outras conhecemos pessoas e histórias tão interessantes, daquelas que a gente tem vontade de ouvir o dia todo, e não temos onde divulgar ou ainda nem mesmo tempo de ouvir...

A conversa de hoje não vai pro jornal, infelizmente. Eu conheci o vôzinho porque estou reunindo informações pra montar um Guia da COHAB pra editora. Mas conhecer o Seu Robério me fez ficar feliz com esse trabalho [que até então não me agradava muito]. E na primavera eu volto lá pra fazer a reportagem.

Para todos os meus colegas, PARABÉNS PELO DIA DO JORNALISTA.

Beijos da Lola

3 comentários:

  1. Parabéns pelo seu dia. Um bju.

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  2. ah, eu adorei a história do seu Robério, ele com certeza é um amor!
    o jornalismo anda precisando de mais notícias e histórias boas de contar como essa...
    feliz dia do jornalista (atrasado)!

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  3. Nossa Mari... chorei com a história do seu Robério... e fiquei meio triste pq eu sinto muuita falta de seus Robérios na minha vida, perto de mim, e aí em Botucas EU SEI que existem milhares de Robérios... eu fico me perguntando pq eu os afastei de mim, será?

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