sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Padrinho!

“Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética: o mito socrático (amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos) e o mito romântico (produzirei uma obra imortal escrevendo a minha paixão).”

Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, 1977

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Memê da página 161

A Butterfly me enviou um memê. Funciona assim:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Eu não repasso memês. É uma política da casa. Mas se você gostou, pode repetir no seu blog!

A tal frase é a seguinte:

"Um mês e alguns dias depois do meu quase-assalto, em fevereiro, às cinco da tarde, recebi um telefonema de Oliveira, porteiro do edifício onde meus pais moravam, pedindo que eu e Nara fôssemos para lá com urgência. Ao chegar, encontramos minha mãe na portaria. Oliveira me chamou num canto e disse que tinha ordens expressas do meu pai para não deixar que nenhuma de nós subisse. Ele, Oliveira, deveria entrar sozinho no apartamento (estava com a chave), mas só quando já estivéssemos as três no prédio. Minutos depois, ele voltou dizendo que meu pai estava morto; havia se trancado na cozinha, abrira os bicos de gás e dera um tiro na carótida".

Quase tudo
Memórias
Danuza Leão

Hate tastes better than Haagen Dazs


É muito difícil duas pessoas conseguirem o que vou denominar aqui de "correspondência plena" no amor.

Geralmente um se esforça mais do que o outro. Outra hora o outro quer mais que o um. São raros os momentos onde a coisa é perfeitamente balanceada. E isso eu chamo de "desequilíbrio natural" do amor.

E, de acordo com a minha teoria mequetrefe, é isso que ocasiona leves corrosões, que terminam com grandes abalos sísmicos.

Não se pode encontrar os culpados. Isso é um problema do cosmos. Posição dos planetas, disposição das luas, signos, ascendentes, descendentes.

Já foi a vez de um querer mais, já foi a vez do outro. Já passou outra vez pro um, já repassou outra vez pro outro. E pronto. Ninguém mais quer a batata. O pepino. A bola. Whatever. Ninguém mais quer.

Mas nada é mais azedo do que um amor não correspondido. Quando você ainda insiste na busca pela tal correspondência plena, ainda no plano do desequilíbrio natural, e percebe que o desequilíbrio natural acabou. Porque o colega do outro lado da gangorra foi embora.

Até se ligar que o colega foi mesmo embora demora um pouco. Você fica ali esperando. "Ele foi comprar cigarros", "Ele foi buscar um sorvete", "Ele foi pegar algodão-doce". E fica aquele amargo na boca.

E aí desculpas acabam e você constata: "É, realmente. Ele não volta mais".

Chegou a hora de pegar a bola e ir embora. E você, até agora triste, fica então com ódio.

E baby, eu vou te contar: Ódio é melhor que Haagen Dazs!


Beijos da Lola, docinha, docinha.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Céu Embaixo


17

Janelas, escancaradas janelas do 17º andar, aqui vou eu, aqui vai toda essa minha estúpida vontade de apagar a luz, única maneira decente de apagar a dor.


16

Décimo sexto andar. Até aqui, tudo bem. A temperatura está a 17 graus, o céu azul, e a lei da gravidade continua funcionando com o costumeiro rigor. Quem partiu, tem que chegar.


15

Ao passar pelo 15º andar, já não acho mais que quem partiu tem que. Está provado que é possível, em certos casos, partir sem chegar a. Nesses casos, se diz, houve empate. Eu não jogava pelo empate. Jogava pelo escândalo, vitória ou derrota. Foi vitória? Derrota? Tem gente que prefere abrir o gás. Tem quem se dedique à pesca submarina. Em nenhum desses casos, o fim é algo de último, a meta não é definitiva. Qual era o jogo dela? Fosse qual fosse, amigos, amigos, jogos à parte.


14

Só quem já caiu de um 1º andar pode imaginar o que senti quando. Quando foi mesmo? Será que foi? Ou foi um peso que tirei de cima de mim? Peso por peso, prefiro o meu, que, pelo menos, me leva para algum lugar.


13

Pronto. Treze é meu número de azar favorito. Tenho outros números de azar. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, por exemplo, essas coisas, enfim, que atravessam as réguas de cálculo. De todos, 13 é o meu predileto. Que foi que fiz para merecer cair até o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico? Quem sabe eu não devia ter, vocês sabem. Vai ver, aquela nuvem lá longe não passa de um eco de um pensamento meu. A raiva é sábia.


12

Alguma coisa não pára de me dizer, não devia ter vindo. Eu sabia que a comida era péssima, o atendimento sempre ficava a desejar. Mas, depois de vindo, como desvir? O 12º é sempre o mais filosófico. Aquele onde o ato de pensar fica mais ridiculamente genérico. Cair não é genérico. Cair é a coisa mais natural do mundo. Cair é lógico. Podem perguntar para qualquer pedra do planeta Terra.


11

O 11º andar é sempre um caso à parte. Talvez melhor dissessem um caos à parte. Mas isto não seria correto. O correto consiste em dizer: o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico, sim, o mais correto, é deixar cair.


10

Não sei como suporto esta situação. º absolutamente ridículo. Só porque alguém saltou do 17º andar de um edifício não quer dizer necessariamente que tenha que chegar até um, digamos, décimo andar. O décimo andar, em casos de queda, é objeto e motivo de lendas e chacotas entre muitos povos primitivos que, absorvidos por outros afazeres mais prementes, deixaram-nas cair no esquecimento, onde jazem até hoje. Mas jazem muito bem. As lendas sobre o décimo andar, ainda vai haver quem as conte. Palavra de honra.


9

Que frio. Bem que minha mãe falou, leva um casaco. Sempre assim. A cabeça não pensa, o corpo é que sofre. O que eu queria mesmo era ficar para sempre no 12º andar.


8

Ela, ela mora no 12º andar. Ao passar, quase dei um alô. Ela não entenderia. Telefonaria para a mãe. Fritaria um ovo. No máximo, olharia para baixo. Ou para cima, para ver de onde eu tinha vindo.


7

Parece mentira, mas cheguei ao 7º andar. A que ponto chegamos! Nessa velocidade, a lembrança do 12º andar parece apenas uma lembrança. A física ensina que os corpos têm sua queda acelerada à medida que se aproximam do destino. Não vejo por que deveria ser diferente comigo. A lei da gravidade é a mais democrática de todas. Rege, com idêntico rigor, gregos e troianos, jóias e paralelepípedos, impérios e pétalas de magnólia. Sete é conta de mentiroso. Ela me mentiu. Nada mais fácil que mentir que se ama alguém. Basta dizer: eu te amo. Quem vai saber? Como medir? Como provar? As palavras também estão sujeitas à lei da gravidade?


6

No sexto, fica a administração. É o andar mais frio e mais distante. É onde se tramam as grandes negociações, onde ficam os cofres com os segredos indecifráveis. Chegar ao sexto andar é a ambição de todo corpo que cai. Os que não. A poucos é dada essa proeza. Os que fracassam, fatalmente, continuarão caindo até o quinto, onde ficam os infernos.


5

Do antigo inferno, o moderno só traz o nome. Na verdade, o inferno de hoje, no quinto andar, é um dos andares mais agradáveis do edifício, dispondo de amplas instalações, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e quarto de empregada. Os banheiros são revestidos de material à prova de fogo, precaução inútil, já que neste prédio raramente ocorre algum incêndio de proporções catastróficas. Da janela do quinto andar, avista-se o letreiro que diz, PROIBIDO CAIR.


4

Ninguém nunca soube para que servia o quarto andar. Sempre se imaginou que era uma espécie de depósito onde se guardavam as coisas que não serviam mais para os andares de cima, garrafas vazias, móveis usados, lâmpadas queimadas, livros já lidos, óculos quebrados, espelhos, diários, relógios.


3

Deus queira que esta saudade do 12º permaneça acesa durante todo este andar, durante o frio, o vento, a angústia, a raiva e a força maior deste poder que me chama.


2

Não há muito a dizer, nunca há. Meia dúzia de palavras resolvem problemas de mil anos atrás. Fomos nos dizendo cada vez menos Dizer sempre é uma outra coisa.


1

O chão é duro.

p. leminski - Céu embaixo

(do livro Gozo Fabuloso)

(in jornal Folha de S. Paulo, mais!, p.12, 15 de agosto de 1999)


Imagem
Autor:
André Viegas
(in http://olhares.aeiou.pt/ny_4/foto1556115.html)

domingo, 4 de novembro de 2007

Discípulas de Nigella

Na abertura do "Coisas que não podemos ter", reclamei da ausência de comida mexicana na minha pequena cidade de brinquedo.

Mas como todos sabem, reclamar é fácil. E comecei a ficar incomodada com tanta reclamação e nenhuma atitude...

Então, resolvendo ter um pouco mais de ação e inspirada por minha querida Nigella, nesta última sexta resolvemos (eu, minha irmã e uma amiga) fazer uma "Girls and Tacos Night"!!

Agora posso ter comida mexicana por uma semana, já que é ÓBVIO que três garotas não comeram tudo isso numa única noite...

Caso você também esteja passando por um momento "Minha vida é um saco porque não posso comer comida mexicana", saia já da frente do computador e vá para o supermercado comprar:

PARA OS TACOS:

- 450g de carne
- 450g de mussarela ralada
- cheddar (de preferência aquele que vem numa bisnaguinha. Você não vê o cheddar na foto porque eu não achei no super, então dessa vez foi taco sem cheddar!)
- pimentão
- tomate - limão
- alface (eu não gosto de alface, e o nosso estava feio, por isso ele foi dispensado, mas pra quem gosta, fica bonito e gostoso!)
- massa pronta para tacos (caso não tenha na sua cidade eu não posso ajudar!)
- tempero mexicano (que é da mesma marca da massa pronta, mas você pode inventar também, porque inventar dá super certo!)

Doure a carne, depois acrescente o tempero com meia xícara de água. Deixe cozinhar até a água secar.
Coloque a massa pronta pra tacos por 5 minutos no forno. Depois tire do forno (não esqueça de desligar o fogo também!) e preencha a massa com tudo que você quiser.

PARA O SOUR CREAM:

O tempero mexicano costuma ser muito forte, e se você não quiser aquela sensação de estar cuspindo fogo, pode melhorar isso com o "Sour Cream". Ele "neutraliza" um pouquinho do sabor picante. Fizemos um monte, muito muito muito mais do que seria necessário. E como ficou muito bom, usamos numa torta pro almoço do dia seguinte, que também ficou sensacional.
Procurei a receita em alguns sites mas não achei nenhuma igual.

Então inventei esse, e todas nós concordamos que está igualzinho ao Sour Cream do restaurante mexicano que existia aqui na Lego's City:

- Creme de leite (use o de caixinha, porque é menos consistente)
- Cream cheese
- Iogurte natural


Bata tudo no liquidificador até ficar cremosinho igual o da foto.

Lembrando que essas medidas de creme de leite, cream cheese e iogurte natural são mais do que suficientes pra 3 pessoas. Na verdade, isso é sour cream pra 9 pessoas. Mas não ligamos pra isso, já que somos um pouco Nigella e inventamos receitas para o que fica na geladeira no dia seguinte!

A diversão é garantida, meus queridos!

Beijos da Lola-Lawson